As baleias são animais do grupo dos cetáceos, palavra que vem do latim cetus (= grande animal marinho), e do grego ketos (= monstro marinho). Os cetáceos são todos os animais homeotermos (que regulam a temperatura do corpo e a mantém ao redor dos 37ºC, respiram através de pulmões (e não de brânquias, como os peixes) e são mamíferos, ou seja, seus filhotes se desenvolvem dentro do corpo da mãe, sendo alimentados, após o nascimento, pelo leite que ela produz, dependendo dela para aprender a sobreviver no ambiente marinho.
Os animais desse grupo passam a maior parte de suas vidas no meio aquático e possuem adaptações para viver nesse meio, sendo a forma do corpo a mais visível. O fato de passarem o maior tempo de sua vida submersos é uma das principais dificuldades encontradas para seu estudo.
Os cetáceos dividem-se em dois grupos: os cetáceos com dentes, ou odontocetos, e os cetáceos com barbatanas, ou misticetos.
Todos os cetáceos são mamíferos, ou seja, seus filhotes crescem dentro do corpo da mãe e são alimentados com leite produzido por ela durante os primeiros meses de vida.
A gestação varia de espécie para espécie, mas para a maioria das baleias, dura cerca de 11 a 12 meses em média. No caso dos golfinhos, a gestação é um pouco mais curta, tendo em média 10 meses.
É muito raro baleias ou golfinhos terem filhotes gêmeos. Os filhotes demandam um grande gasto energético por parte de suas mães e é pouco provável que uma fêmea conseguisse amamentar dois ou mais filhotes. Nos raros casos em que o nascimento de gêmeos ocorre, um deles normalmente não sobrevive. Essa é uma das razões pelas quais os cetáceos merecem cuidados especiais. Como as fêmeas geram um filhote por gestação e demoram bastante tempo, entre 2 e 6 anos, para ter outro filhote, as populações desses animais não crescem tão rápido e por isso são mais vulneráveis a impactos.
Os cetáceos, em geral, são animais de topo de cadeia alimentar, ou seja, não possuem muitos predadores naturais. Por isso, o crescimento populacional de baleias nos oceanos pode ser usado como indicador da saúde do meio ambiente marinho e da biodiversidade disponível para o futuro.
Assim como ocorre com outros mamíferos, as mães têm função importante na aprendizagem de comportamentos para a sobrevivência dos filhotes, principalmente nos odontocetos. Na maioria dos golfinhos, um filhote permanece com sua mãe cerca de dois anos. No caso das orcas, os filhotes ficam junto de suas mães durante toda a vida, pois essa espécie é conhecida por apresentar uma sociedade matriarcal. Ao lado da mãe, os filhotes ficam protegidos e aprendem a se alimentar, brincar e se comunicar.
Apenas os filhotes das grandes baleias aprendem a migrar com a mãe na primeira vez em que vão para as áreas de alimentação. Uma vez aprendido o caminho, esses filhotes afastam-se das fêmeas e tornam-se independentes de suas mães durante o restante de seu desenvolvimento.
Baleias são mamíferos, não peixes. Entretanto, elas têm sido historicamente tratadas como peixes pela indústria baleeira.
A vasta maioria de espécies de peixes se reproduzem através da liberação, pelas fêmeas, de enormes quantidades de ovos na água que, então, são fertilizados pelos machos. Em condições ambientais normais, apenas uma pequena porcentagem desses ovos fecundados chegarão à forma adulta.
As baleias, como o homem e os demais mamíferos, possuem sangue quente, respiram ar pelos pulmões, e dão à luz filhotes bem desenvolvidos, que crescem sendo amamentados por suas mães. O período de gestação é bastante longo. Normalmente, um filhote nasce a cada um ou dois anos e requer mais de um ano de cuidados maternais, antes de poder sobreviver sozinho, levando ainda muitos anos para atingir a maturidade. Por essas razões, as baleias não se recuperam das perdas provocadas durante sua exploração comercial.
Para sobreviver no oceano as baleias têm que ser capazes de nadar por longos períodos de tempo sem emergir para respirar. Para fazer isso, elas desenvolveram um sistema respiratório altamente sofisticado. Os pulmões funcionam da mesma maneira que os nossos.
Em uma inspirada nosso corpo pode absorver 15% do oxigênio inalado.
A baleia pode absorver até 90% do oxigênio inalado e se levarmos em consideração o tamanho do pulmão de uma baleia com certeza é muito oxigênio! Assim como nos outros mamíferos, elas armazenam esse excesso de oxigênio em mioglobina, uma proteína encontrada na célula dos músculos. As baleias têm mais quantidade de mioglobina do que os outros animais, o que permite que armazenem uma maior quantidade de oxigênio.
As baleias também usam o oxigênio de uma maneira mais eficiente. Quando mergulham, o coração bate mais devagar e as artérias selecionadas são reduzidas. Isso diminui o fluxo de sangue para certos órgãos sem diminuir a pressão do sangue. Essa fisiologia especializada da baleia faz com que ela tenha um melhor aproveitamento do oxigênio. O sistema respiratório das baleias cachalote está entre um dos mais eficientes do mundo. As cachalotes podem segurar a respiração de 80 a 90 minutos, mas as campeãs são as baleias bicudas que podem segurar a respiração por duas horas.
Além da falta de ar respirável que existe nos oceanos, um outro elemento hostil é o frio intenso. Pouca luz penetra na superfície da água o que pode tornar a temperatura congelante mesmo com pouca profundidade. Para lidar com esse frio, as baleias desenvolveram uma grossa camada de gordura em volta do corpo.
A gordura das baleias, armazenada sob a pele e acima dos músculos, age como um cobertor para manter a sua temperatura interna. Nas estações mais frias, essa camada isoladora é o que impede que elas congelem. As baleias também usam essa gordura para armazenar energia. Algumas espécies se alimentam pesadamente durante meio ano quando existe alimento farto e jejuam o resto do ano vivendo apenas da camada de gordura acumulada.
Uma das curiosidades da vida marinha é como se obtém uma boa noite de sono. Como as baleias têm uma respiração consciente, não é possível que fiquem completamente inconscientes porque talvez não acordem a tempo de respirar. Os biólogos especialistas da vida marinha afirmam que as baleias superam esse problema colocando somente metade do cérebro para dormir a cada vez. Desta maneira, a baleia nunca está completamente inconsciente, mas obtém o descanso necessário.
Não se sabe ao certo qual é a sensação experimentada nesse estado, mas muito provavelmente é algo parecida com o estado semiconsciente que experimentamos quando começamos a dormir: estamos muito perto do estado inconsciente, mas temos consciência suficiente para acordar completamente se for necessário. Não é incomum ver uma baleia boiando e se mexendo lentamente na superfície. Tudo indica que elas se comportam dessa maneira quando estão dormindo.
Um outro aspecto da vida marinha é a pressão da água. Devido à gravidade, a água aplica mais pressão em grande profundidades do que em baixa profundidade. Nessa situação, é possível sentir um peso grande de toda a água acima do corpo. Os seres humanos e outros mamíferos podem mergulhar somente até uma certa profundidade antes que a pressão esmague os seus corpos. Isso acontece porque o ar que os mamíferos carregam nos pulmões exerce uma quantidade limitada de pressão para fora do corpo. Quando a diferença da pressão do ar dos pulmões para fora do corpo e a pressão externa da água sobre o corpo aumenta existe uma força maior empurrando os lados do corpo para dentro. Em um dado momento essa força ultrapassaria a integridade estrutural da caixa torácica e ela se quebraria. Obviamente isso mataria um ser humano.
As baleias podem suportar essa pressão porque seus corpos são mais flexíveis. A caixa torácica das baleias é composta de cartilagens soltas e flexíveis que permitem que ela se dobre até um certo ponto quando está sob grande pressão, pressão esta que esmagaria os nossos ossos. Os pulmões das baleias também se flexionam de uma forma segura quando estão sob pressão e isso evita que eles se rompam. Quando os pulmões se flexionam, o ar dentro deles é comprimido mantendo assim um equilíbrio entre a pressão interna e a externa. Essas adaptações são particularmente importantes para as baleias cachalote que mergulham a uma profundidade de 2.100 metros ou mais para caçar lulas gigantes que vivem nessas grandes profundidade.
Além de se adaptar às difíceis condições da vida marinha, as baleias também se adaptaram a tirar proveito dos ricos recursos marinhos. Nas próximas seções veremos algumas das notáveis características que ajudam as baleias a caçar as suas presas.
Alimentação das baleias
Todas as 75 espécies de baleias são carnívoras, mas os métodos de caça variam muito. Baleias com dentes como as cachalotes e as orcas, caçam da mesma maneira que os tubarões. Elas têm uma fileira de dentes fortes e rasgam a presa ou a engolem. Muitas baleias com dentes comem somente peixes pequenos e outras presas fáceis de caçar.
As orcas, por um outro lado, podem atacar leões marinhos, focas e outras baleias (por essa razão são chamadas de baleias assassinas, uma alteração da expressão assassinas de baleias).
Assim como os lobos, os ursos polares e outros predadores em terra, as baleias seguem e caçam as suas presas escolhendo um alvo mais fraco, como um filhote de baleia corcunda, por exemplo. As orcas e outras espécies geralmente caçam em bandos, algumas vezes cercando a presa.
Apesar dessas tendências, as orcas e a maioria das espécies com dentes são pouco ameaçadoras aos seres humanos. Na realidade muitas espécies parecem gostar da presença humana.
Muitas espécies desenvolveram habilidades de ecolocação para ajudá-las a achar a presa e localizar obstáculos. A ecolocação é um conceito muito simples: a baleia emite uma série de sons e as ondas de som percorrem a água em volta. Quando as ondas de som atingem algum obstáculo ou um outro animal, elas ricocheteiam e retornam para a baleia. A água conduz o som muito bem e as baleias têm uma audição excelente, portanto, podem captar até mesmo os ecos mais fracos de um objeto a quilômetros de distância.
Em um volume de água com pressão consistente, o som sempre viaja com a mesma velocidade. Calculando o tempo de retorno do eco, a baleia pode saber a distância que a onda percorreu e determinar a distância em que o objeto está. Como a maioria dos animais, as baleias têm dois ouvidos, um em cada lado da cabeça. Isso permite que determinem de onde o som vem. Se o som alcançar primeiro o ouvido direito e for um pouco alto, então o objeto está do lado direito e vice-versa. No mundo escuro e submerso dos oceanos, as baleias precisam sentir o ambiente através do som. Uma grande porcentagem do cérebro delas é dedicado ao processamento da informação auditiva ao invés da informação visual. Nos seres humanos o processo é o inverso.
A ecolocação é encontrada nos cetáceos com dentes, como os golfinhos e as baleias cachalote e não nas espécies sem dentes. O grupo de baleias sem dentes inclui as corcundas, azuis e muitas outras espécies. Elas possuem uma adaptação específica para se alimentar: as barbas. As barbas consistem de uma placa larga na boca da baleia composta de centenas de lâminas finas e longas em forma de franja compostas de queratina, o mesmo material das unhas humanas. Essas lâminas formam um filtro que a baleia usa para capturar pequenos animais como o krill (crustáceos muito parecidos com o camarão), o plâncton e pequenos peixes. Devido a essa característica, as baleias sem dentes são geralmente chamadas de baleias filtradoras.
Existem dois grupos de baleias filtradoras que são distintas pela maneira que usam estes filtros. As Skimmers abrem a boca e nadam a frente pegando peixes, crustáceos e plâncton. Depois de terem filtrado bastante água, engolem o alimento inteiro que ficou preso nas lâminas. As Gulpers enchem a boca de água e então empurram a língua à frente para forçar a água através das barbas filtrando qualquer presa do lado de dentro da placa. Apesar do tamanho grande, as baleias filtradoras geralmente têm gargantas pequenas que medem apenas alguns centímetros de largura. Isso é tudo de que elas precisam para devorar o krill e outras criaturas pequenas que fazem parte da sua alimentação.
Como as baleias filtradoras não rasgam a presa do mesmo modo que as baleias com dentes, muitas pessoas têm a impressão de que são caçadoras passivas e que simplesmente cruzam os oceanos com a boca aberta engolindo o que encontram pela frente. Na realidade, a maioria delas procura por áreas que tenham uma alta concentração de comida e onde podem usar várias táticas para capturar as presas. As corcundas, por exemplo, capturam os peixes com um tipo de rede de bolhas. Quando elas localizam um cardume perto da superfície, nadam em círculo por baixo e liberam ar pelo buraco respiratório. Isso cria colunas de bolhas em volta do cardume retendo-o em uma pequena área. Depois disso, a baleia vem por baixo e captura os peixes. As corcundas podem também emitir um som alto que aparentemente serve para desorientar a presa.
As baleias corcunda e outras espécies de baleias podem produzir uma vasta gama de sons que são usados para se comunicarem entre si através de grandes distâncias. Na próxima seção exploraremos os sons que as baleias fazem.
Existe também um enorme desconhecimento sobre muitos aspectos da biologia das baleias. Elas são incrivelmente adaptadas à vida aquática e, quando submersas, se comunicam através de complexas séries de cliques, estalos e assobios. As jubartes, por exemplo, são famosas por suas "canções" - longas melodias que os machos entonam na época de acasalamento.
Estudos sobre baleias já revelaram um comportamento social bastante desenvolvido. Algumas espécies formam grupos com forte organização social, nos quais os indivíduos alimentam-se juntos e protegem jovens e doentes de forma coordenada e bastante elaborada.
Após décadas de pesquisas, as taxas de crescimento das populações de baleias são ainda desconhecidas, por causa da dificuldade de se estudar esses animais altamente migratórios, de vida longa e reprodução lenta. Também não há estimativas seguras das taxas de natalidade ou das taxas de mortalidade natural de filhotes ou de animais jovens. Mesmo os métodos mais modernos utilizados para determinar o tamanho das populações hoje existentes, não conseguem contar o número de indivíduos com precisão. A atividade baleeira não reconhece esse problema, escolhendo estimativas que justificam a caça.
Para o Greenpeace, o método utilizado para caçar baleias é cruel e os produtos dessa atividade não suprem necessidades humanas essenciais.
A caça está acabando com animais especiais e importantes para o ecossistema marinho. Além disso, grandes mamíferos de topo de cadeia, como as baleias, são indicadores da saúde do ambiente e da biodiversidade disponível para o futuro. Seu desaparecimento é um empobrecimento biológico, o que compromete as condições de sobrevivência do próprio homem.
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